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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Gravidezes plurais e uma defesa do parto humanizado



**Fotos - Carla Raiter, para um projeto sobre Violência Obstétrica

Saiu a lei do parto normal hoje. É uma lei muito importante e já é um passo na direção certa. Mas não resolve. E vou explicar os porquês. Sim, aviso de textão. E, por ser um assunto importante, resolvi ressuscitar meu blog.

Nos últimos meses, muitas amigas minhas ficaram grávidas/tiveram filhotes. Coisas da idade, hahahaha. Com isso, e com a minha entrada em um grupo de debates feminista, descobri muitas coisas sobre maternidade. Algumas terríveis, horríveis, tenebrosas e que me fazem pensar 3 vezes em ter filhos. Só me mantenho querendo ser mãe um dia porque sou teimosa.

A maioria das mães/grávidas que eu conheço por aqui quer/quis parto normal. Porque, bem, é um processo mais fácil, a recuperação é mais rápida e traz menos riscos à mãe e ao bebê. "Menos riscos que uma cesariana, Amanda?" Opa, sim. Cesárea é uma cirurgia e, como tal, deveria ser prescrita apenas em casos de necessidade, certo? Mas tudo depende. Voltaremos a esse ponto.

 O Brasil é recordista no número de cesáreas; no resto do mundo, o normal é ter filhos... em parto normal. Cirurgia só em ultimíssissimo caso. O que, se você pensar, faz sentido - o corpo da mulher está preparado para ter filhos, tem mecanismos próprios, libera hormônios, dilata etc. Quando algo nesses mecanismos falha, ou quando a mãe tem problemas de saúde (como pressão alta, entre outros), ou quando o bebê está mal localizado, ou por outros motivos que causem riscos quaisquer, o médico indica cesariana. Bem, isso no resto do mundo, porque aqui o médico indica cesariana sem necessariamente motivos médicos. Por isso somos recordistas.

O governo brasileiro está, muito aos poucos, implantando políticas para priorizar o parto normal. Na rede pública, ele já vem sendo priorizado. Mas nem tudo nisso é positivo, no entanto, porque é nesse ponto que surge o maior medo das grávidas: a violência obstétrica.


Essa violência acontece de várias formas e são tantos os relatos, e tão diferentes, que eu vou colocar uns links abaixo. Mas ela está naquele momento em que a mãe está com dor e a enfermeira diz algo como "na hora de fazer, você gostou, né?". Ou nas mães que dão à luz acorrentadas na cama para "não atrapalhar o parto". Essas são as mais "fáceis" de identificar. Mas tem outras. Existe um procedimento chamado episiotomia, que é basicamente um corte para facilitar o parto. Só que esse corte não tem comprovação de efetividade na maioria absoluta dos casos. E ele pode deixar sequelas na mulher, pode provocar dores pós parto e algumas mulheres não conseguem voltar à vida sexual, porque dói. E o pior - geralmente o corte é feito MESMO QUE A MÃE NÃO QUEIRA. A mulher está ali, deitada e não pode nem opinar sobre se vai ser feito um corte nela ou não. É a falta total de autonomia.

Assustou? Tem mais - existe um procedimento chamado "ponto do marido", que é basicamente dar um ponto desnecessário na vagina pra que ela fique mais "apertadinha" e dê mais prazer ao marido depois do parto. Eu acho que não preciso explicar porque isso é errado, preciso? Esse procedimento traz o mesmo problema da episiotomia - dor pra mulher pós parto e em muitos casos dor no ato sexual pro resto da vida ou até a moça achar alguma solução, possivelmente em outra cirurgia.

"Nossa, Amanda..." você está pensando. Pois é, eu digo. É por essas e muitas outras que muitas mulheres têm medo de ter filho de parto normal. Além dos motivos clássicos, como medo da dor, praticidade de escolher dia e hora e etc. E os médico de planos de saúde "empurram" a cesariana, porque é mais cômodo pro médico marca hora e dia e porque eles recebem muito mais por cesárea do que por parto normal.

As mulheres que escolhem cesárea estão erradas? Não. Você consegue culpá-las, sabendo o que acontece em parto normal? Isso porque eu nem falei ainda da ocitocina artificial, usada para apressar o parto, que aumenta muuuuuuuuuuuuito as dores de parto, além de poder trazer outras complicações.

"Então você tá defendendo a cesárea, Amanda?" - não. Eu defendo o parto humanizado, mas, sobretudo, eu defendo a escolha da mulher.

Mas o que é parto humanizado? Aqui nesse link tem explicações mais longas, mas é, basicamente, o parto no qual a mulher e seu corpo decidem o que é melhor. Não há antecipação da hora do parto, salvo algum risco para a mãe ou para o bebê; não há intervenções desnecessárias; e há uma preparação da mãe muito antes da hora de parir. As mães geralmente são acompanhadas por doulas e o parto pode ser feito num hospital, numa casa de partos ou na própria casa da gestante.

Por que eu defendo esse parto? Porque ele é o mais natural e o que mais respeita o corpo da mulher,  a recuperação é mais rápida e a mãe é ouvida, respeitada, não tem suas vontades atropeladas num momento tão sensível como o parto. Vamos combinar aqui - ninguém sabe melhor o que fazer com sua gravidez e seu corpo que a mãe. Mesmo o melhor médico. Afinal, o corpo é dela.

Não estou falando que as mulheres deveriam parir de cócoras no meio do mato, ok? Eu também já achei essas pessoas que dão à luz em casa umas "hippies" malucas. Eu sei o que parece. Mas daí, quando você lê sobre infecções hospitalares (e eu me lembro que a minha mãe teve uma e que ela ficou um tempo de cama em casa depois do nascimento de um dos meus irmãos); quando eu penso em tudo que pode dar errado numa cirurgia; quando eu lembro das coisas que são feitas em partos normais, sobretudo na rede pública; tudo isso me parece muito antinatural e muito mais maluco que todas as hippies que eu julguei na vida.

Claro que em qualquer decisão levam-se em conta os riscos. Se há riscos, um parto não pode ser feito em casa. Mas se a mãe e o bebê estão saudáveis, risco zero, o bebê esta encaixado, tudo está certinho... por que não?

O grande problema do parto humanizado ainda é, infelizmente, dinheiro e informação. Custa caro ter certeza de que seu parto vai ser como você quer. O que é um absurdo, mas real. E muitas mulheres não fazem nem ideia do que seja um parto humanizado, ou têm preconceitos, como eu tinha. Informação é poder. E dinheiro, infelizmente, também.

Enfim - cada um sabe de si e a mulher, eu repito, é soberana nas suas escolhas. Se ela não está segura, deve fazer o que for preciso para ficar segura. Se prefere cesárea, parto normal ou humanizado, que seja; mas ela e suas vontades DEVEM ser respeitadas. Vamos respeitar a mãe?

E já aviso - na minha vez, se for possível e não houver riscos, vou de parto humanizado. De preferência em casa. Podem me chamar de hippie =)


links sobre violência obstétrica:

http://www.naomekahlo.com/#!Relato-Eu-Sofri-Viol%C3%AAncia-Obst%C3%A9trica/c1a1n/1BAE1630-D3FC-4C01-8200-8885684B65D6

http://www.bolsademulher.com/bebe/gravida/materia/violencia-obstetrica-saiba-o-que-e-e-como-denunciar

http://maternar.blogfolha.uol.com.br/2014/03/12/mulheres-denunciam-violencia-obstetrica-saiba-se-voce-foi-vitima/

http://www.maesaudavel.com.br/relato-de-parto/relato-de-nao-parto-a-silenciosa-violencia-obstetrica/


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Rio?

Tarde do dia 25 de novembro. Eu fui até a Feira do Livro na Usp, comprei 4 livros novos pra minha estante, esperei horas em uma fila da Companhia das Letras, depois ônibus e cheguei em casa quando começou a chover. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, pessoas fugiam de balas, se escondiam em suas casas e locais de trabalho, por causa de uma guerra bárbara.

Escrevi aqui sobre violência, inclusive sobre Tropa de Elite 2. Já nem sei quantas vezes vi notícias que me fizeram agradecer por não estar na cidade maravilhosa. O que está acontecendo agora por lá é uma das tragédias mais anunciadas que já pudemos testemunhar. Todo mundo sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. E o que foi feito?

O governo do Rio de Janeiro defende a invasão das favelas pela polícia, como solução. Seria uma solução fabulosa, se vivêssemos em um mundo perfeito, com autoridades que não se vendem por um carro, uma promoção, alguns milhares de reais. Seria perfeito se não tivéssemos uma população pobre, obrigada a viver em locais sem nenhuma condição e que se submete a pagar a bandidos por proteção contra bandidos piores. Seria ótimo se não tivéssemos um sistema que favorece o tráfico de drogas e usuários que o sustentam. Não é nesse mundo que vivemos.

Nesse momento, sentada aqui escrevendo, tento pensar numa solução. Não, não tenho a pretensão de conseguir a solução, não sou boa o suficiente pra isso. Só não queria escrever mais um texto sobre isso, falar disso, sem ter uma esperança qualquer. Cansa conversar sobre isso e não saber o que fazer.

Vocês talvez conheçam a música Jeremy, do Pearl Jam. Ela foi escrita baseada em dois fatos reais: primeiro, um menino que se matou em frente a classe na escola - ele era quieto, tinha poucos amigos, e um dia foi pra escola e no meio da aula de inglês, saiu da sala, voltou com um revólver e se matou. A outra história o próprio Eddie Vedder quase testemunhou - um garoto que também se matou, na escola dele, quando ele era jovem. Ele chegou a ouvir o tiro.

Por que esses garotos se mataram? Talvez porque eles falassem e ninguém os ouvisse, talvez por não suportarem mais a vida, talvez por nos alertar de algo, talvez só porque estavam tristes. Mas uma morte assim sempre serve para nos chamar atenção para algum problema.

O Rio é o nosso Jeremy, agora. Eles está com a arma apontada para a própria cabeça, e nós estamos olhando, sem saber o que fazer para impedir o suicídio. Talvez não consigamos encontrar uma solução a tempo, e ele morra. Quantos mais deixaremos morrer?

Amigos, não quero parecer o capitão Nascimento no primeiro filme, porém acredito que um jeito de começar a vencer o tráfico é PARAR DE USAR DROGAS! Ou legalizar! Não sei se legalizar é uma boa opção, mas pior do que está acho difícil ficar.

Não adianta subir o morro e matar todo mundo, logo terá mais gente assumindo os postos vazios. Então, por favor, defender que a polícia tem que matar todo mundo não vai mudar nada!

E, desculpem os termos a seguir, mas é foda ver que tem gente pensando na Copa do mundo. Na boa, foda-se a Copa do mundo, foda-se a Olimpíada, tem gente morrendo lá, caralho! Tem criança correndo de balas, ok? Dá pra pensar nisso agora, e esquecer os jogos?

Se cuidem, todos vocês. Torço pelo Rio. Que nosso Jeremy sobreviva.



Jeremy - Pearl Jam


At home
Drawing pictures of mountain tops
With him on top, lemon yellow Sun
Arms raised in a "V"
The dead lay in pools of maroon below

Daddy didn't give attention
To the fact that mommy didn't care
King Jeremy the wicked
Oh, ruled his world

(2x)
Jeremy spoke in class today

Clearly I remember
Picking on the boy
Seemed a harmless little fuck

Oh, but we unleashed a lion
Gnashed his teeth
And bit the recess lady's breast

How could I forget?
And he hit me with a surprise left
My jaw left hurting

Oh, dropped wide open
Just like the day
Oh, like the day I heard

Daddy didn't give affection, no
And the boy was something
That mommy wouldn't wear
King Jeremy the wicked
Oh, ruled his world

(3x)
Jeremy spoke in class today

Try to forget this (Try to forget this)
Try to erase this (Try to erase this)
From the blackboard

(2x)
Jeremy spoke in class today

(2x)
Jeremy spoke
Spoke

Jeremy spoke in class today

Tradução

Em casa
Desenhando figuras de topos de montanhas
Com ele no topo, sol amarelo limão
Braços erguidos em V
Os mortos estendidos em poças de cor marron embaixo deles

Papai não deu atenção
Para o fato de que a mamãe não se importava
Rei Jeremy, o perverso
Governou seu mundo

Jeremy falou na aula de hoje
Jeremy falou na aula de hoje

Me lembro claramente
Perseguindo o garoto
Parecia uma sacanagem inofensiva

Mas nós libertamos um leão
Que rangeu os dentes
e mordeu os seios da menina na hora do intervalo

Como eu poderia esquecer
E me acertou com um soco de esquerda de surpresa
Meu maxilar ficou machucado

Deslocado e aberto
Assim como no dia
Como dia em que ouvi

Papai não dava carinho
E o garoto era algo
Que mamãe não aceitaria
Rei Jeremy, o perverso
Governou seu mundo

(3x)
Jeremy falou na aula de hoje

Tente esquecer isto
Tente apagar isto
Do quadro negro

(2x)
Jeremy falou na aula de hoje

(2x)
Jeremy falou
Falou

Jeremy falou na aula de hoje

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Novas

Algumas coisinhas aconteceram nos últimos tempos, mas eu acabei não escrevendo por aqui, atropelada por um sentimento que tinha que expressar. Porém, agora que a minha chuva pessoal deu um espaço pro sol, falo pra vocês.

Minha tia está CURADAAAAAAAAAAAAA! O câncer foi-se! Melhor notícia que tive nos últimos tempos. Ela sofreu, batalhou, aguentou, pensou que ia morrer, sobreviveu. Nós sofremos com ela, e agora tudo acabou! Graças a Deus! Como eu fiquei feliz com isso! Ela é como uma segunda mãe, e pensar que ela tava passando por isso foi tão difícil como se fosse comigo. E agora que acabou, que alívio maravilhoso!

Andei fazendo coisinhas interessantes: fui num jogo de vôlei (quase dormi, mas a culpa não foi do jogo, foi minha mesmo, hehe), fui na final do Paulistão (sou alvinegro da Vila Belmiro, o Santos vive no meu coração); saí com pessoas novas num sábado paulista; estudei (menos do que devo), me diverti.

Estou acompanhando, juntamente com o Thiago, aulas de Fernando Pessoa na USP. Uma delas, inclusive, me fez acordar às 6 e meia. O que eu não faço pelo Álvaro de Campos! E semana que vem, vou acordar nesse horário de novo, para ver a análise dos meus dois poemas preferidos, "Lisbon Revisited" (o primeiro a gente nunca esquece) e "Tabacaria". O assustador é ver como eu, muitas vezes, me pareço com o Pessoa, sobretudo com o Álvaro. Depressivo, hehe.

Quero comprar um bongô! Vi um na Teodoro Sampaio e me apaixonei. Queria aprender a tocar percussão, não sei quando vou conseguir isso (sim, é uma espécie de cobrança, Thi), mas aquele bongozinho me conquistou.

Fui no museu da língua portuguesa, nova exposição, sobre erros de português. E lá vi uma frase fantástica: "A fé move montanhas. Mas os ecologistas são contra".

Sei que alguns de vocês ficaram preocupados com meu último post. Não liguem. Vou continuar sem explicar, mas estejam certos que tá tudo bem.

A vida segue como quase sempre. Continuo com medos, continuo vendo o mundo por uma ótica por vezes torta, por vezes incerta. Não sou exatamente quem eu queria, mas ainda bem - se já fosse tudo o que queria, de valeria continuar?

Amo, não sei se odeio, rio, choro. Nada(e tudo) de novo debaixo do sol.



Palavras - Titãs

"Palavras não são más
Palavras não são quentes
Palavras são iguais
Sendo diferentes

Palavras não são frias
Palavras não são boas
Os números pra os dias
E os nomes pra as pessoas

Palavra eu preciso
Preciso com urgência
Palavras que se usem
em caso de emergência

Dizer o que se sente
Cumprir uma sentença
Palavras que se diz
Se diz e não se pensa

Palavras não têm cor
Palavras não têm culpa
Palavras de amor
Pra pedir desculpas

Palavras doentias
Páginas rasgadas
Palavras não se curam
Certas ou erradas

Palavras são sombras
As sombras viram jogos
Palavras pra brincar
Brinquedos quebram logo

Palavras pra esquecer
Versos que repito
Palavras pra dizer
De novo o que foi dito

Todas as folhas em branco
Todos os livros fechados
Tudo com todas as letras
Nada de novo debaixo do sol"

sexta-feira, 9 de abril de 2010

20 mil léguas submarinas

Não sou fã do Rio de Janeiro. Acho que deve ser um lugar muito bonito, quero visitá-lo, fazer todos os passeios turísticos, andar em Copacabana ouvindo bossa nova, mas não tenho esse amor todo pelo Rio. Porém, tenho que admitir que essa tragédia que está acontecendo por lá acabou mexendo comigo.

Estava no trabalho e ouvi uma notícia do enterro de um garoto de 8 anos, morto em um desabamento. Tinha visto a foto no Uol ontem, do pai abraçado ao filho já morto. Aquela foto me emocionou, mas eu preferi não entrar na matéria. Hoje fiquei sabendo que aquele garoto chegou a se comunicar com os bombeiros, debaixo dos escombros. Não foi salvo porque houve um outro deslizamento, e quando os bombeiros conseguiram resgatá-lo ele já estava morto.

Ouvindo isso eu quase chorei. É sério. Me coloquei no lugar do pai. Se fosse um dos meus irmãos, nem precisava ser meu filho... é muito triste pensar que por um detalhe, alguns segundos a mais, um garotinho de 8 anos morreu. Há milhares de outros casos, mais de 150 mortes em várias cidades do Rio, mas esse é o que mais me chamou a atenção.

Algumas imagens jamais sairão da minha memória. Me lembro de uma foto da Folha de S. Paulo, de uma rebelião em penitenciária, em que presos seguravam um objeto redondo, parecido com uma caixa ou um vaso de barro. Não era um objeto - era a cabeça de um preso, com um pedaço de pano atravessando-a de uma orelha a outra. Nas tragédias mais recentes, como a do Haiti, o terremoto do Chile, imagens de pessoas sem casas, rostos com olhar perdido. No dia 11 de setembro de 2001, o avião entrando no edifício, os prédios desabando. A foto do pai abraçado ao filho morto, chorando, é mais uma que ficará gravada nas 'minhas retinas fatigadas', como diria Drummond.

Caríssimos que me leem, a vida é frágil demais. Por isso devemos cuidar dela, nos cercar de quem vale a pena, dizer que amamos sempre. Fico pensando que, se aquele pai soubesse que não veria mais o filho com vida, provavelmente teria feito algo diferente no dia. Mas nós nunca sabemos quando é a última vez. Essa é a graça e a desgraça da vida. Vocês já sabem que penso mesmo assim, já perdi muito e sei como dói. Por isso sempre olho para tudo como a última vez. Não digo que estou certa, nem recomendo que ninguém ser assim, até porque não é muito fácil.

Faz pouco tempo tomei uma resolução: não quero me importar com o que não importa. Não é simples, e nem sempre eu consigo, mas até que vem dando resultado. Estou mais tranquila nestes últimos tempos, e penso que talvez seja por isso. A resolução acaba me afastando de algumas coisas, mas é extremamente necessária.

Para terminar, repito: a vida é frágil. E acrescento: é curta. Um cantor também já disse que 'a vida é tão rara'. Então, citando este mesmo cantor, digo que "quando olhar para o lado, só quero estar cercado de quem me interessa". E do que realmente interessa.



Lenine - É o que me interessa

"Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego, atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurre em meu ouvido
Só o que me interessa

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa"