terça-feira, 5 de junho de 2012

Eu e a repercussão

Eu era feminista ferrenha quando era mais nova. Ou pelo menos achava que era. Hoje tenho mais senso crítico do que é ou não machismo, e talvez hoje seja uma feminista melhor. Porém, não sou radical - não vou deixar de falar com um cara porque ele contou uma piada de loira ou de mulher burra, sei lá. Aliás, um dos meus maiores problemas com o feminismo é saber se devo ou não reclamar de uma piada. Defendo a liberdade de humor, desde que não seja gratuito, com o intuito apenas de ofender. E isso vale pras outras piadas ofensivas também, contra gays, judeus, nordestinos. Piada pode até ser ofensiva, mas para isso tem que ser boa, muito boa. E a linha que separa uma piada do puro preconceito é tão tênue...

Quando era mais nova, ouvia várias vezes que eu não deveria ser feminista, e sim feminina. E, bem, não me considero "não feminina", só não sou mulherzinha - não acho o maior barato passar horas dentro de uma loja de cosméticos, não saio correndo atrás das últimas novidades para me embelezar, não uso maquiagem quase nunca, não curto muito usar rosa. E não quero julgar quem o faz, apesar de isso ser difícil às vezes, eu admito. Tenho meus preconceitos, e luto contra eles.

Falo isso porque meu último post foi bastante feminista, e causou desconforto em algumas pessoas. Sim, eu percebo o desconforto mesmo que vocês, amig@s, não falem nada. Conheço vocês o suficiente para isso. É curioso como sempre que eu contei essa minha história pra alguém tive as mais variadas reações - teve gente se colocou no lugar do cara, dizendo que ele deve ter sofrido por gostar de alguém e não ser correspondido; gente que achou que isso era bobagem, a não ser pela parte que o cara me assustou; gente que se sentiu atingido pessoalmente, como se eu dissesse que todos os homens são estupradores em potencial, e que eu sou uma exceção feliz à regra.

Então, eu me sinto mesmo uma exceção à regra, mas não dessa forma. Veja bem - uma cara de 25 anos se sentir atraído por uma menina de 13 anos magrela (nunca tive corpo de mulherão, nem essa "desculpa" ele tinha) não é exatamente normal ou recomendável. E eu acho que não é segredo o que acontece, na maioria das vezes, quando um adulto se interessa por uma criança a qual ele tem acesso.

Mas o que eu mais mexeu comigo foi o depoimento da menina que foi estuprada num assalto. Eu li e fiquei uns minutos sem saber o que responder. Quando eu fui assaltada pelas "spice girls" (eram 5  meninas, hehe), me senti sem chão, frágil e desprotegida, fiquei muito mal. E elas só tinham levado meu celular e meu bilhete único. Eu imagino como ficaria se tivesse passado por um terço do que ela passou. Minha vontade era de abraçá-la, e eu não posso porque continuo sem saber que ela é. Esse é um direito dela, continuar anônima, e eu vou respeitar.

Conversando com um amigo sobre isso, eu vi que me expus um pouco. Porém eu acho que foi válido. Não sei se a opinião de vocês sobre minha pessoa vai mudar, ou mudou. Sei apenas que escrevi, vocês leram e opinaram. Não sou melhor ou pior por conta do que aconteceu ou deixou de acontecer. Mas estou bem, minha vida continuou, e cá estou eu. Hoje em dia consigo até brincar com essa situação.

A todos vocês que me leram, sabem que eu falei a sério e não para me fazer de vítima, se solidarizaram comigo, ficaram preocupados, quiseram me abraçar e me perguntar se eu estava bem, obrigada. Vocês são demais! Como já disse a Hita, eu tenho os melhores amigos do mundo =D, aqui e em Santos.

O agradecimento é também a vocês que se incomodaram. Eu acredito que vocês me conhecem o suficiente pra saber que eu não quero criar polêmica por criar. E peço que pensem no seu incômodo. Por que ele aconteceu? Pensem no que isso significa, porque isso pode dizer algo sobre vocês, e algo que talvez vocês precisem ou queiram mudar.

4 comentários:

  1. Amanda, querida, apenas seu comentário logo abaixo do meu post já foi um abraço. Me sinto abraçada por entender e por me permitir expressar mesmo sem saber quem sou. Creio que depois de ter sentido a repercussão que teve a sua história imagina o preconceito por que passa quem já sofreu esse tipo de violência. Tive um namorado que já estava comigo há algum tempo quando eu contei durante um papo. A única coisa que ele me perguntou foi: "você fez o teste de aids depois disso?". Bem... e por ae vai. Sim, fiz o teste de aids e pra outras doenças também. Tomei retrovirais e uma medicação tipo um anticoncepcional que era tomado vários por dia para evitar gravidez... Esse fato não me deixou outras marcas, senão a triste lembrança de ter vivido esta experiência. Obrigada por seu abraço!

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  2. Desculpe falar assim, abertamente, mas não entendo essas pessoas que se incomodaram com o seu relato. Só vc que viveu aquela situação constrangedora sabe se aquilo foi traumático ou não... como as pessoas gostam de julgar!

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    1. É... no geral o pessoal ficou preocupado comigo, e aí eu os lembrei que isso aconteceu há muito tempo, e que eu tô bem. Mas eu sei que a sociedade em geral tá pronta pra falar mal de casos assim. O problema é ver o feminismo como uma bandeira radical, o que algumas vezes ele é mesmo. Essa visão transforma tudo o que for um pouco feminista em radicalismo. Tudo bem, eu acho que é apenas questão de pensar um pouco mais.

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