Ah... esse é meu segundo aniversário na cidade. Aniversários são bichos estranhos: eu gosto deles, gosto de acarinhá-los, mas cada vez que eles chegam me lembram da passagem do tempo, e de como tudo muda, vai mudando, mudou.
Estou na USP. Esse foi meu maior presente de aniversário (apesar de eu ter gostado bastante da bolsa que ganhei também:P), o que deu e dá mais trabalho. O aniversário este ano vem no meio do turbilhão trabalho/letras/casa, sem tempo pra ler ou dormir, e com atrasos nas aulas. Vamos levando...
Estou vendo as pessoas crescerem. Amigos se casando, indo para empregos melhores, mudando de vida, arriscando. Espero ver outros, ainda esse ano, mudando de vida e se arriscando de volta pra cá também. Espero eu mesma ter coragem de arriscar a mudar, mesmo que instantaneamente para pior, se eu precisar. Acho que precisarei.
Quero ter meu milhão de amigos, mesmo que esse milhão não chegue a uma sala cheia. Queria ter todo mundo que gosto no meu aniversário, perto de mim, mas não dá. Então, aceito o que tenho. Preciso aprender a aceitar algumas coisas.
Para finalizar, Aniversário, do Álvaro de Campos, na voz do Paulo Autran. Porque eu amo o Álvaro e porque aniversários são beeeeem legais, mas quando você começa a ficar velha passa a sentir falta de agumas coisas que não voltam...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
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