Um lobo, cor clara, olhos claros. Parece quieto, cansado, tímido. Não tem medo, ou quer amedrontar - só está quieto e cansado.
Belo lobo, se aproxima e se deixa acarinhar. Sempre com cuidado, desconfia confiando. De repente, me conta sua vida. Me diz, com sua própria linguagem, de onde veio, o que passou e viu passar por seus olhos, cheios de tempo. Se sente à vontade, acolhido. E me acolhe também, eu, simples passarinho.
Me oferece sua proteção; ignora nossas diferenças, exalta minha fragilidade, como se sempre tivesse buscado algo pra proteger. Me leva para sua vida, me torna uma parte dela. E eu não posso, nem quero, fazer algo que não seja retribuir seu cuidado, da melhor forma que eu puder.
Então ofereço meu cantar, minha pequena voz, meus voos. Retiro as pequenas pragas de sua pele com o bico; escuto atentamente seus uivos e lamentos, tento alegrar seus dias, quase sempre consigo. É a minha vontade, o meu papel.
Tenho nas asas a liberdade dos pássaros, porém não preciso fazer uso dela. Nada me prende ao lobo, a não ser a companhia. E nada é capaz de me fazer querer ir embora.
Com os cuidados, um dia o lobo estará mais curado, menos sozinho, menos cansado. Talvez nesse dia as diferenças entre nós, dois amigos, sejam grandes demais. E eu, passarinho, passarei.
Mas, na verdade, isso não me preocupa, não. Porque eu sei que as almas não tem forma. E nossa companhia é feita pelo encontro delas.
Meu papel sempre será de seu pássaro. Estarei aqui, para cantar, ficar perto, voar ao redor, retirar as pequenas pragas com meu bico. Porque esse sou eu.
Sempre.
Perda total: a revolução dos órgãos
Há 4 meses
Lindo, lindo, lindo! =D Adorei!
ResponderExcluirNice...
ResponderExcluirSeu tio te ensinou direitinho, ele está orgulhoso de vc.
ResponderExcluir